
Ela era parva e matutava sobre isso. Ela era um génio e sonhava com isso. Delirava e confabulava. Histórias de sucesso e discursos oscarianos. Tudo lhe chegaria um dia, queria acreditar, sem muito ligar.
Mantinha o seu trabalho de funcionária pública num estaleiro com crianças. Todos os dias de regresso a casa, planeava sentar-se no sofá com o computador no colo e principiar a sua conquista do Universo. Contudo, era o jantar, um livro que a cativava, os filhos para educar, a roupa para lavar, secar, passar, dobrar, guardar e voltar a vestir. Era um ciclo pernicioso que não a deixava escrever e ser maravilhosa.
Um dia fartou-se desta vida de patéticas aspirações e foi ao seu médico de família. Pediu com gentileza e, passados 2 meses de apoio psiquiátrico, foi-lhe concedida a solução.
A Medicina agradece sempre aos dadores de órgãos.
“O meu cérebro vai servir alguém mais produtivo”, pensou ela antes de adormecer anestesicamente…