quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Reflexões I love fire!

Reflexão sobre a minha existência I
Ser Psicóloga e trabalhar para o Estado não compensa. Estou a ouvir uns senhores Macgyvers a conversarem sobre trabalhos que fazem e o dinheiro envolvido enquanto instalam um novo esquentador na minha cozinha e penso que o horrível e doloroso valor que vou ter de pagar (caso não aconteça aqui um homicídio) é mais ou menos peanuts para eles.
Anda uma gaja a vida toda a estudar e a tentar cuidar dos outros e afinal, o segredo da felicidade do sossego monetário reside numa caixa de ferramentas e algum jeitinho com canos.
É caso para dizer um grande palavrão.
Contudo, como sou uma espécie de Princesa, apesar de não ter um tusto, contento-me com um “bardamerda” rápido e inócuo.
Provavelmente não liquido ninguém e aceito a vida que escolhi… assim, serenamente, sem querer destruir ninguém e principalmente a minha cútis. A chegar aos 40 não me posso dar ao luxo de a sujeitar a factores irritantes que a possam perturbar. Pobre ou não, o sorriso deve manter-se. A Nicole Kidman fez ainda mais no Moulin Rouge, caindo tuberculosa de um trapézio e alegando que o show deve continuar.
Tal como a minha vida. Tudo continua.
Sem dinheiro. Honestinha, coitadinha. Que merdinha.
Reflexão sobre a minha existência II
Mudei de ideias, que se fod*!
Digo, direi e só não disse há pouco mais palavrões porque os senhores de branco me levaram na ambulância amordaçada enquanto os bombeiros apagavam o fogo e tentavam discernir qual MacGyver era qual.
Foi um pandemónio.
Não me arrependo. I love fire!
Reflexão sobre a minha existência III
Agora a minha vida é cool e nice. Acordo com uma sirene e faço ginástica (e tinha eu acabado de me inscrever num ginásio exterior!). O pequeno-almoço não é mau, atendendo a que deixei de fazer o meu regime das cavernas. Depois vou lavar os dentes e sinto-me melhor. Leio um bocadinho e escrevo no meu blog onde dou conselhos às pessoas que vivem aí fora.
Após um breve almoço, reúno-me numa das salinhas mais aprazíveis aqui do meu novo lar com um grupo de mulheres, mulheres que escolheram, em determinada altura da vida, serem tontas e perderem a razão. De uma forma ou de outra, todas elas são criminosas como eu. Mataram, roubaram, cometeram fracos ou fortes delitos. Estão todas cá dentro e eu dou-lhes apoio psicológico. Às vezes também as manipulo, mas isso são outras histórias.
Enfim… quem diria!
Viva a vida no Hospital-Prisão! Se soubesse o que sei hoje tinha morto os lojistas das arcadas do Estoril que me venderam em 1979 uma boneca precocemente careca, apesar de ser anunciada como a maravilha da modernidade, com a possibilidade de ter o cabelo de todas as cores existentes no Universo.
Passou uma oportunidade, mas nunca o desejo de lutar pelos meus direitos e, essencialmente, incendiar!
I love fire!
Apontamento final
Queria só terminar com os agradecimentos institucionais por ter internet gratuita e total*
Obrigada a todas as funcionárias por zelarem pela minha cútis e não permitirem que as pessoas mesmo más desfigurem a minha ainda bela face! Tenho algumas inimigas, mas a maioria das presas gosta de mim e bajula-me. Mas elas também têm ganhos. Noto a diferença na forma como falam de si próprias, da sua história passada e do que há-de ser. Sinto uma vaga de esperança e de coragem em ebulição e isso é bom.



*Quando sair em liberdade, daqui a uns 20 anos, caso ainda exista uma certa anormalidade na área das telecomunicações, terei de voltar a cometer um crime… uma vez cá dentro, é difícil sair.

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