quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Dia 30 de Dezembro

É injusto ser este dia. Ninguém repara em mim. Estão todos em ebulição à espera que chegue o dia 31, o meu irmão usurpador da alegria contida durante o ano que tem de ser gasta até às doze badaladas. Ninguém se lembra que posso ser vivido com convicção e energia, um dia pelo menos como os outros.
Sou uma espécie de intervalo para ir à casa-de-banho. Sinto-me parvo e inútil.
Sofro todos os anos, mas hoje protesto.
… Há a excepção dos que nasceram neste dia esquecido. Contudo, pobres pessoas, também elas são desprezadas. Entre o Natal e o ano novo a festa é geral, não há espaço para aniversários. As duas festas principais já atrapalham muita gente e outra qualquer que se tente intrometer neste período está condenada ao fracasso. O expoente máximo da desconsideração é neste dia, que todos passam à frente sem ligar.
Protesto!
Protesto!
Um dia aniquilo o 31 e vai ser cá um 31!
Quero festa no meu dia, champanhe e loucura. Luzes e fogo-de-artifício. Quero ser comemorado, saltado, beijado, dançado! Quero promessas que a partir do meu dia vão ser melhores pessoas, vão cumprir a vida certinha, vão estudar, trabalhar, amar, vão ser bons pais e mães de família, bons filhos, praticar o bem, desejar ser alguém.

Não gosto do silêncio de hoje, como se tudo tivesse de ser explodido amanhã. Vá lá, bebam um copo de champanhe, cantem alto, ensaiem o espectáculo para o dia do meu irmão açambarcador!
Um dia faço greve e o sol não nasce no dia 30. Ficam na penumbra à espera do próximo dia, vão ver! Estúpidas gentes!

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